1. Sionismo Moderno
Bárbara Caramuru | Verbete extraído de “Palestina: um manual da ocupação”
O sionismo político, nasceu no final da década de 1880, na Europa. Nas décadas seguintes ao seu surgimento, esse movimento se pautou na colonização da Palestina. Como projeto político, o sionismo ganhou força no Primeiro Congresso Sionista, na Basiléia, ainda no seculo XIX, em 1897. Theodor Herzl, jornalista austríaco e principal teórico do sionismo moderno, produziu na segunda metade do século XIX a obra: Der Judenstaat (O Estado Judeu). Ele sugeriu a criação de um Estado étnico-religioso judeu na Palestina. No Programa Basiléia, estabeleceu-se a ideia de criar um “lar público e legalmente seguro para o povo judeu na Palestina”, desconsiderando a existência da população nativa palestina (Masalha, 2021, p. 21).
Para a execução desse projeto, foram propostas ações repressivas. Em seu diário, Herzl afirmou: “Tentaremos expulsar a população miserável para além da fronteira […] negando-lhes qualquer emprego em nosso país […] Tanto o processo de expropriação como a retirada dos pobres deve ser executada de maneira discreta e circunspecta” (Clemesha, 2009, p. 6). O projeto, tinha por slogana frase: “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Essa foi uma das premissas da colonização de assentamento promovida pelo sionismo na Palestina.
Há de destacar que essa noção de “terra sem povo” estava também enraizada num modelo de pensamento moderno europeu, pautado no colonialismo e teorias racistas, os quais viam os demais povos, não-brancos ou não euro-americanos, como desprovidos de humanidade. De forma análoga à limpeza étnica, genocídios, expropriação e exploração ocorreram na América e África, onde ameríndios e africanos foram desumanizados no projeto colonial, de forma a justificar toda a barbárie da colonização (Fanon, 2020; Gonzalez, 2020). Algo similar ao que Edward Said convencionou chamar de “orientalismo” (Said, 2007).
Nessa esteira, para além de enquadramentos dos palestinos e demais povos árabes como exóticos, incivilizados e bárbaros, há fontes que deixam nítido o enquadramento racista produzido em relação à população local da Palestina. Vejamos esta fonte escrita por Chaim Weizmann, sionista, que viria posteriormente a ser o primeiro presidente de Israel (Masalha, 2021, p. 21):
Um comentário foi feito por Weizmann a Arthur Ruppin, chege do Departamento e colonização da Agência Judaica (…) quando Ruppin perguntou sobre os árabes palestinos, Weizmann respondeu: “os britânicos nos contaram que ali vivem algumas centenas de milhares de negros (Kushim em hebraico significa pessoa de pele escura) e que esse não tem nenhum valor”(Masalha, 2021, p. 22).
Outras referências à população palestina são relacionadas a atraso cultural, como sugerido por Zangwill, ou quando Avraham Stern os descreveu como “animais do deserto” (Masalha, 2021, p. 45). Tais elementos foram utilizados de forma a justificar a ideia de transferência da população local para instauração de um Estado colonial.
O movimento sionista representava menos de 5% da população palestina, isolados em colônias, até o início do século XX. Era interpretado como um movimento político de compra de terras, ou até mesmo missionário e colonialista, mas representava até então nada mais que uma pequena parcela isolada da população (Pappé, 2016, p. 31).
Em 1911, eram percebidas manifestações de palestinos contrárias às imigrações e criação de assentamentos judaicos na Palestina, tendo em vista o risco colonial. Vale destacar que, ainda no período Otomano, houve proposta de proibição desta imigração por lideranças palestinas. Said al-Hussayni, em 1911, foi um dos nomes de destaque – embora muitos, tal como a família de Hussayni, seguissem vendendo terras aos recém-chegados judeus (Pappé, 2016, p.32). Como afirmou Masalha, em 1907, “a compra de terras na Galileia por sionistas começou a gerar oposição por parte dos camponeses palestinos expulsos das terras vendidas pelos proprietários que não viviam na região”. Essa compra de terra foi, inclusive, apontada por alguns colonos, como o russo Epstein, como um problema moral e um perigo, devido à expropriação de terras dos palestinos (Masalha, 2021, p. 24).
A efetivação do projeto sionista só foi possível em virtude da presença britânica na região e de seu apoio ao intento que, até então, realizava quase exclusivamente compra de terras na região. Com a entrada dos britânicos a partir da queda do Império Otomano, em 1918, o cenário mudou.
Nur Masalha demonstra como o projeto de “expulsão dos palestinos”, bem como o conceito de “transferência”, estava intimamente “enraizado no pensamento político sionista” (Masalha, 2021). “Desde o fundador do movimento sionista, Theodor Herzl, até as lideranças principais da empreitada sionista na Palestina, a limpeza étnica era uma opção válida” (Pappé, 2016, p. 27).
Verbete retirado integralmente do livro “Palestina: um manual da ocupação” (2024), cedidos pela autora como forma de propagar a informação e pesquisa científica. Para mais informações consultar o texto original e demais verbetes do livro. Como citar: Caramuru, B. Palestina: um manual da ocupação. Bauru: Canal 6 Editora, 2024.
2. A Partilha da ONU: Resolução 181
Bárbara Caramuru | Verbete extraído de “Palestina: um manual da ocupação”
No ano de 1947, após sucessivas ondas de expansão colonialista (Caramuru, 2024) a Liga das Nações, organismo que precedeu a Organização das Nações Unidas – ONU, propôs a divisão da Palestina em dois Estados: Palestina e Israel. As negociações que recuaram mediante a Revolta Árabe, na década de 30, em reação a ocupação e dominação do território, foram retomadas na década posterior.
A partilha da Palestina histórica foi realizada no ano de 1947. A divisão do território desproporcionalmente destinou 11.000 km² para um milhão de palestinos e 14.000 km² para 700.000 judeus.
Verbete retirado integralmente do livro “Palestina: um manual da ocupação” (2024), cedidos pela autora como forma de propagar a informação e pesquisa científica. Para mais informações consultar o texto original e demais verbetes do livro. Como citar: Caramuru, B. Palestina: um manual da ocupação. Bauru: Canal 6 Editora, 2024.
3. Al-Nakbah
Bárbara Caramuru | Verbete extraído de “Palestina: um manual da ocupação”
No ano de 1948, ocorre Al Nakbah, traduzida para o português como “a Catástrofe”, em que aproximadamente 850.000 palestinos foram forçados ao exílio (Masalha, 2021), deslocando-se a outros países, vindo a integrar o contingente de refugiados. Na maior parte dos casos, essas pessoas foram obrigadas a se abrigar em campos de refugiados, com péssimas condições de vida, o que inclui ausência de saneamento básico e fornecimento de água e comida, além de serem privados de trabalho, estudo, moradia, do direito de livre acesso e até mesmo do direito de retorno previsto na Resolução 194 da ONU. Foi neste contexto que se concretizou uma etapa crucial da colonização, a instauração do Estado de Israel e despossessão do povo palestino.
Segundo a Organização das Nações Unidas, “é classificado na categoria de refugiado palestino todo indivíduo que residia na Palestina de dominação britânica no período entre junho de 1946 até 15 de maio de 1948 (Al-Nakbah) e seus descendentes, o que na atualidade significa, aproximadamente, cerca de 5,6 milhões de pessoas”. Os dados atuais da Agência Especial da ONU para Refugiados Palestinos apontam para 5,9 milhões de pessoas refugiadas na atualidade (UNRWA, 2023).
Deve se considerar que dentro deste contingente de refugiados há pessoas palestinas que foram deslocados de seu território para a Cisjordânia, também os refugiados internos, com destaque a população de Gaza, composta em sua maioria de refugiados (deslocados) internos que se reorganizaram dentro das “novas fronteiras” impostas pela ocupação.
Verbete retirado integralmente do livro “Palestina: um manual da ocupação” (2024), cedidos pela autora como forma de propagar a informação e pesquisa científica. Para mais informações consultar o texto original e demais verbetes do livro. Como citar: Caramuru, B. Palestina: um manual da ocupação. Bauru: Canal 6 Editora, 2024.
4. Naksa – a anexação de 1967
Bárbara Caramuru | Verbete extraído de “Palestina: um manual da ocupação”
Entre os dias 05 e 10 de junho de 1967, ocorreu a Naksa, “Guerra dos Seis Dias”, ou também “Guerra de 1967”. Foi um confronto entre a Liga Árabe e Israel. Esse evento, novamente, reconfigurou as fronteiras palestinas devido a uma maior anexação de terras pela potência ocupante. Em 1967, o Estado de Israel efetivou a ocupação dos territórios de Gaza e da Cisjordânia (Said, [1992] 2011, p. 17). A guerra gerou um número aproximado de 350 mil refugiados palestinos. Estima-se que nessa guerra Israel triplicou seu território, expandindo a ocupação para além dos marcos de 1948, bem como aquele território palestino estabelecido inicialmente pela resolução da ONU em 1947.A Guerra de 1967 ficou marcada em virtude da desproporcional ofensiva israelense e de seu curto período. Iniciada em 5 de junho com o ataque surpresa israelense às tropas egípcias no Sinai. As Colinas de Golã foram tomadas da Síria, um ponto estratégico de ataque bélico. A península do Sinai (acesso para o Canal de Suez) e a Faixa de Gaza, foram tomadas do Egito e ocupadas por Israel. Gaza ficou sob a dominação israelense, assim como a Cisjordânia – incluindo Jerusalém Oriental. Ao lado, vemos os mapas após 1967.
Verbete retirado integralmente do livro “Palestina: um manual da ocupação” (2024), cedidos pela autora como forma de propagar a informação e pesquisa científica. Para mais informações consultar o texto original e demais verbetes do livro. Como citar: Caramuru, B. Palestina: um manual da ocupação. Bauru: Canal 6 Editora, 2024.
5. Acordos de Oslo
Bárbara Caramuru | Verbete extraído de “Palestina: um manual da ocupação”
Em 1988, OLP declarou sua independência – do exílio em Túnis – e aceitou a Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, que pedia a retirada de Israel do território ocupado em 1967. Sequencialmente, no contexto das tensões locais, ocorreu um dos principais acordos para palestinos, assinado em 13 de setembro de 1993. O acordo negociado entre líderes palestinos e israelenses foi assinado na cidade de Oslo, Noruega. Os signatários foram Ytzhak Rabin, Primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, líder da OLP. Vale salientar que outras organizações palestinas, como a Frente Popular e a Frente Democrática, posicionaram-se críticas e/ou contrárias ao Acordo.
O acordo teve por principais resultados: 1- reconhecimento do Estado de Israel nas conformidades do mapa de 1967 e 2- reconhecimento da OLP como representante dos palestinos. A partir de Oslo ocorreu a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e, também, previsão da retirada das tropas ocupantes de Gaza e Cisjordânia.
Em 24 e 28 de setembro de 1995, um novo acordo ocorreu, pois o primeiro não se mostrava efetivo. O acordo previa, mais uma vez, a retirada das tropas israelenses de Gaza e Cisjordânia, o reconhecimento da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e autonomia palestina dos territórios da Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e partes da Cisjordânia, que posteriormente serão divididos em zonas A, B e C. A divisão proposta para a Cisjordânia foi, Área A: a cargo da administração e segurança da ANP, Área B: administração da ANP e segurança israelense, Área C: administração e segurança israelense.
Após os acordos de Oslo, Israel segue ampliando assentamentos ilegais na Cisjordânia, bem como realizando uma política institucionalizada de apartheid na Palestina.
Verbete retirado integralmente do livro “Palestina: um manual da ocupação” (2024), cedidos pela autora como forma de propagar a informação e pesquisa científica. Para mais informações consultar o texto original e demais verbetes do livro. Como citar: Caramuru, B. Palestina: um manual da ocupação. Bauru: Canal 6 Editora, 2024.
6. Faixa de Gaza
Bárbara Caramuru | Verbete extraído de “Palestina: um manual da ocupação”
O Hamas é um partido político islâmico, fundado em 1987, no contexto da Primeira Intifada. Sua origem está atrelada à Irmandade Muçulmana do Egito (ramo Sírio-Palestino), o que faz com que seja a ele atribuído noções como “inimigo” tanto de Israel quanto do Egito. Os principais aliados do Hamas, atualmente, são: Turquia, o grupo Hezbollah e o Irã, possuindo representação no Qatar. Após a eleição do Hamas, a Faixa Gaza sofreu um bloqueio por parte de Israel (e do Egito). O Egito tem posição peculiar em relação ao jogo político local, pois, embora seja contra o Hamas é próximo da ANP. Atualmente, segundo organismos internacionais e interlocutores que colaboraram com esta pesquisa, entende-se que o bloqueio a Faixa de Gaza configura “Crime contra a humanidade” (Caramuru e Manfrinato, 2023). Segundo os relatos locais de pessoas palestinas na Cisjordânia e em Gaza, e situação é um pouco mais complexa, vejamos:
Após a ascensão do Hamas, a repressão em Gaza se intensificou. A Faixa de Gaza sofreu sucessivos ataques ao longo dos últimos anos, com destaque para os eventos ocorridos em 2008, 2009, 2012, 2014, 2019, 2021 e, mais recentemente, em 2023. Há notória amplitude das ações bélicas contra Gaza após a entrada do governo do grupo Hamas. Um dos mais lembrados eventos foi o Genocídio em 2008/9, em que ocorreram ataques sucessivos entre 27 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009. O Human Rights Watch acusou Israel de uso de fósforo branco como armamento – tanto em 2009 quanto em 2023 (HRW, 2023). Conforme informações do Centro Palestino de Direitos Humanos, 1.434 palestinos/as foram mortos, incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes.
Nos anos seguintes, como dito anteriormente, Gaza foi alvo de inúmeros ataques. Nas últimas quase duas décadas Gaza tem sido alvo de um projeto de expansão colonial e limpeza étnica que gerou dezenas de milhares de mortos, como temos acompanhado de forma recente, nos últimos meses do ano de 2023 a 2024.
Gaza, no ano de 2023, conta com uma população aproximada de 2 milhões de pessoas, a taxa de desemprego estimada é de 82% e 56% da população vive na pobreza. O cerco a Gaza ocorre há mais de 15 anos, desde que ocorreu a desocupação da região pelos colonos, em 2005, e a entrada do Hamas no poder em 2006/7.
Não apenas a Faixa de Gaza, mas também Cisjordânia, Jerusalém e palestinos dentro do território ocupado pela colonização sionista seguem sendo alvo de necropolítica, apartheid e violência colonial.
Verbete retirado integralmente do livro “Palestina: um manual da ocupação” (2024), cedidos pela autora como forma de propagar a informação e pesquisa científica. Para mais informações consultar o texto original e demais verbetes do livro. Como citar: Caramuru, B. Palestina: um manual da ocupação. Bauru: Canal 6 Editora, 2024.