Com grave espanto e preocupação, recebemos a informação sobre a realização na USP de uma palestra, promovida pelo Centro de Estudos Judaicos, intitulada “TERROR FUNDAMENTALISTA ISLÂMICO: ameaça letal à DEMOCRACIA” (caixa alta no original, como mostra a imagem abaixo).
Fica evidenciado que o título desse evento promove a islamofobia na medida em que fomenta uma identificação automática e indevida entre a religião islâmica, o fundamentalismo, e o terror, como se “terror” e “fundamentalismo” fossem características exclusivas do islamismo ou como se elas pudessem definir e resumir a “essência do Islã”. O título sugere ainda a ideia de “ameaça” desse mesmo “Islã” (“terrorista”) à “Democracia“, aqui formulada de forma abstrata, sem definir localidade, país ou contexto social.
Semelhante título gera, assim, um medo infundado ao islamismo e aos muçulmanos que vivem integrados e de forma pacífica no Brasil. Definitivamente, os muçulmanos não representam qualquer ameaça à democracia brasileira. No entanto, o título enseja a ideia de “medo maior” que supostamente paira sobre todos nós.
A disseminação de estereótipos anti-islâmicos gera desconfiança e temor, contribuindo para isolar os muçulmanos brasileiros da comunidade brasileira em geral, gerar ódios, culpabilizações infundadas, e expor suas vidas a perigo.
Neste sentido, o título do evento nada tem de acadêmico. Deve ser, pois, veementemente denunciado pelo seu caráter islamofóbico e nefasto para a convivência pacífica entre os muçulmanos e demais brasileiros no Brasil.
Este episódio apenas revela a correção das iniciativas de membros da comunidade acadêmica da USP que defendem a ruptura de convênios dessa universidade com o Estado de Israel (jamais com os acadêmicos judeus!) até que este Estado aceite a autodeterminação do povo palestino e o fim do regime de apartheid em toda a região.
Finalmente, saudamos todas as atividades que reúnam pesquisadores muçulmanos e judeus, brasileiros, palestinos e israelenses, entre outros, em debates acadêmicos francos e críticos, na defesa dos direitos humanos e do direito à autodeterminação nacional do povo palestino.
Na defesa dos direitos humanos, contra a islamofobia, o antissemitismo e demais formas de ódio racial!
Pelo direito à autodeterminação nacional do povo palestino!
Rede Universitária de solidariedade ao povo palestino.
11 de junho de 2024