Apartheid

Fábio Bacila Sahd | Revista Lua Nova nº 120 – 2023

O dia é 7 de outubro de 2023. Empregando os termos da narrativa anticolonial e antirracista presente na carta do Hamas, o grupo lança uma operação para além das fronteiras de Gaza, alegando como objetivo reocupar cidades do sul de Israel, perdidas em 1948 quando o Estado foi fundado, colocar a Questão Palestina novamente em evidência para que haja uma solução e fazer prisioneiros para trocar por aqueles mantidos havia muito e aos milhares nas prisões israelenses[2]. Na linguagem oficial e socialmente hegemônica de Israel, reocupação é invasão, as pessoas levadas à força para Gaza são reféns ou sequestradas, e a questão não é anticolonial nem antirracista, mas de terrorismo. Nessa perspectiva, que simplifica e descontextualiza a realidade, tudo se resume ao terrorismo congênito e atemporal palestino como mal irracional e absoluto, que precisa ser combatido com todas as forças e justifica quaisquer medidas repressivas.

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Fábio Bacila Sahd | Outros Tempos, vol. 19, n. 34, 2022, p. 92-122

A cada ano, tem crescido o número de acadêmicos e organizações que, acusam o Estado israelense de cometer do crime contra a humanidade de apartheid. Renomadas organizações locais e internacionais já aderiram a essa tese, assim como acadêmicos e relatores especiais designados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU. O objetivo aqui é fazer um levantamento comparativo e crítico dos argumentos utilizados em defesa do uso da tipificação de apartheid para definir a situação na Palestina/Israel. Para tal, passamos em revista a relatoria produzida nas últimas décadas por distintas organizações e eminentes acadêmicos, constatando que, nas justificativas dadas se enfatiza que, para além de se tratar de fato jurídico, recorrer ao conceito de apartheid provoca uma mudança de perspectiva e um aprofundamento teórico, que permite integrar as violações praticadas por Israel em diferentes tempos e espaços.

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